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O dia que Papai Noel morreu para mim – Maranhão Hoje – MARANHÃO Hoje- Notícias, Esportes, Jogos ao vivo e mais


O bom velhinho deixou de embalar meus sonhos de Natal

Era década de 1960. Não sei precisar o ano, mas recordo como tivesse ocorrido ontem a morte de Papai Noel, para mim. À época nossa família morava em Pindaré-Mirim, então importante cidade do interior maranhense. Eram tempos difíceis, mas, mesmo assim, eu e meus irmãos – José e Terezinha – alimentávamos esperança de que seríamos visitados àquela noite pelo bom velhinho.

Fazendo suas tarefas de corte e costura, mamãe ouvia cada um de nós dizer o que deseja ganhar naquela noite: eu até delirei em ter um carrinho desses com pedais que se pode dirigir, como fazem os adultos em seus automóveis.

Antes da aproximação do Natal, porém, mamãe, sempre atenta às questões de educação dos filhos, havia passado no Colégio Firmino Augusto Rabelo para retirar o material escolar do ano seguinte. Isto mesmo, naqueles tempos já havia ações do governo no sentido de atender estudantes carentes (ou, como se diz hoje, em vulnerabilidade social e econômica), não sendo, portanto, algo que tenha surgido somente a partir de 2003, como alguns tentam passar a ideia.

O material recolhido – livros, cadernos, lápis, lápis de cor e outros itens – há dias estavam guardados em nosso guarda roupas, e naquela tarde de 24 de dezembro, mamãe, certamente com o coração partido, ouvia seus filhos alimentarem sonhos de ganhar presentes de Natal, e sabia que só tinha um alternativa para não serem os únicos da rua sem ter recebido nada.

Pois bem, na manhã seguinte, ao acordar levei um susto ao ver debaixo da minha rede um enorme pacote embrulhado em papel de presente. Tinha sido obra de Papai Noel, estava certo. Sob as redes do meus irmãos, outros pacotes também. O Bom Velhinho não havia nos esquecido!

Ansioso, rasguei a embalagem para ter uma enorme surpresa: o meu presente, assim como os outros dois, era o material escolar que o governo havia distribuído para o ano seguinte. Que decepção! Mamãe, no entanto, com lágrimas nos olhos, fingindo ser de alegria e não de tristeza, nos disse que aqueles seriam os melhores presentes que poderíamos receber e que iriam nos fazer muito bem para toda a vida.

Diante dos objetos que a mim couberam cheguei à cruel conclusão de que Papai Noel não estivera em nossa casa na noite passada; nunca esteve. O que ganhávamos na data que se celebra o nascimento de Jesus Cristo era obra do meu pai, mas naquele ano ele não estaria conosco, não sei por qual motivo.

Apesar da frustração, não consegui ficar magoado, sabia dos esforços de mamãe para não deixar a data passar em branco, e que lição ela nos deu, pois nunca mais alimentamos a ilusão de que um homem do Polo Norte conseguia, numa noite, percorrer todas as casas do Mundo e deixar para cada criança uma lembrança.

Papai Noel morreu!