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As perspectivas não são nada boas

Vencemos o desafio das eleições, não sem muito sofrimento. Apuradas as urnas com pouco mais de duas horas do encerramento das eleições, venceu o candidato Luis Inácio Lula da Silva, que já havia conquistado a maioria dos votos no primeiro turno. Com ele, um pouco mais da metade dos eleitores que cravaram votos válidos puderam comemorar o que garantem ser o enterro de um modelo autoritário que flertava com a ditadura.

Do lado dos perdedores, a insatisfação com o resultado das eleições se materializou em protestos de caminhoneiros paralisando as rodovias e passeatas em frente aos quarteis do exército pedindo intervenção. Muito embora ainda haja resquícios desses movimentos no momento em que este artigo está sendo escrito, o que se espera é que tudo isso vá se arrefecendo e que o novo governo assuma a administração do país e imponha o seu programa de governo.

Independente dos resultados e de quem vai comandar o país, as perspectivas não são nada boas. Os reflexos da guerra na Ucrânia ainda provocam desabastecimento e pressão sobre os preços, acarretando aumento da taxa de juros nas economias mais fortes, com reflexos no resto do mundo. Como a guerra teima em continuar, não se sabe até onde isso vai chegar, o que é extremamente perigoso para a manutenção da paz mundial.

Além do perigo da inflação, o novo governo vai ter que fechar a equação dos gastos públicos para cumprir as promessas de campanha. Pelo andar da carruagem, tudo indica que o freio dos gastos não vai funcionar. Já se debate meios de estourar esse limite para manter os programas de benefícios à parcela mais pobre da população, provocando mais pressão nos preços. Além disso, há outras promessas igualmente nocivas para um orçamento desequilibrado, embora necessárias, como é o caso do aumento real no salário-mínimo, do perdão aos endividados, da atualização da tabela do imposto de renda e um monte de outras benesses que foram prometidas nos palanques.

Se não bastasse tudo isso, já se anunciam sinais alarmantes de nova variante da Covid, mais contagiosa e, não se sabe ainda, se mais nociva. Espera-se que não seja tão grave, porque ninguém mais aguentaria outro período de isolamento, de internações, de UTIs lotadas e elevado número de óbitos.

Neste momento, o governo está mais preocupado em montar a sua equipe, distribuir os cargos e definir quem vai gerenciar o que. Dadas as circunstâncias dos acordos políticos que foram sacramentados para que o candidato do PT ganhasse as eleições, nomes não faltam para infinidade de cargos em todos os escalões, assim como não faltam as disputas nada amistosas dos postulantes.

O mercado está ansioso para conhecer esses nomes e poder antecipar alguma coisa em termos das políticas que vêm aí. Quem ocupará os ministérios, as estatais e autarquias públicas? Serão utilizados critérios técnicos ou políticos? Que orientações serão dadas em termos de política econômica, relações exteriores e programas de reformas? Como o governo vai lidar com as nações vizinhas, boa parte delas em péssimas condições políticas e econômicas e inadimplentes com os empréstimos com o BNDES?  É importante que o presidente eleito tome essas decisões o quanto antes e que a transição ocorra da forma mais pacífica possível.