Em 38 anos, Brasil perdeu 15% de suas florestas naturais – MARANHÃO Hoje
Florestas naturais ocupam 58% do Brasil
Novos dados do MapBiomas, obtidos a partir do monitoramento do território brasileiro por satélites, mostram que a perda de florestas naturais no Brasil entre 1985 e 2022 foi intensa. Nesse período, a área ocupada por florestas naturais passou de 581,6 milhões de hectares para 494,1 milhões de hectares, uma redução de 15%.
Os últimos cinco anos responderam por 11% dos 87,6 milhões de hectares de florestas naturais suprimidas nestes 38 anos. Desse total, mais de 75 milhões de hectares estavam em propriedades privadas. Os dados fazem parte dos dados publicados na Coleção 8 do Mapeamento Anual da Cobertura e Uso da Terra no Brasil realizado pelo MapBiomas.
O mapeamento de florestas naturais abrange tipos diversos de cobertura arbórea: formações florestais, savanas, florestas alagáveis, mangue e restinga. Juntos, esses ecossistemas ocupam 58% do território nacional. Quando todos eles são considerados, Amazônia (78%) e Caatinga (54%) são os biomas com maior proporção de florestas naturais em 2022. Os biomas que mais perderam florestas naturais entre 1985 e 2022, por sua vez, foram Amazônia (13%) e Cerrado (27%).
Dois terços do total suprimido entre 1985 e 2022 (58 milhões de hectares) correspondem a formações florestais, que tiveram uma redução de 14% em 38 anos, ou aproximadamente 1,6 milhão de hectares por ano. Formações florestais são áreas de vegetação com predomínio de espécies arbóreas e dossel contínuo como as florestas que tipicamente predominam na Amazônia e Mata Atlântica.
A quase totalidade (95%) da conversão de florestas naturais no Brasil foi para a agropecuária, ou seja, após o desmatamento a área foi convertida para uso agropecuário – seja pastagens ou cultivo agrícola. Nas duas primeiras décadas da série, observamos um aumento da perda de florestas, seguido de um período de redução da área desmatada a partir de 2006. No entanto, nos últimos cinco anos houve um aumento da perda de florestas, chegando a quase 10 milhões de hectares.
Considerando-se apenas as formações florestais: elas ocupavam apenas 43% do país em 2022: 369,1 milhões de hectares, ou o equivalente a três vezes a área do Pará. Desse total, 308 milhões de hectares, ou 84% do total, estão na Amazônia – que também responde por 86% da supressão florestal detectada nessa categoria entre 1985 e 2022. Os biomas com maior cobertura de formação florestal no Brasil são Amazônia e Mata Atlântica, com respectivamente 73% (308 milhões de hectares) e 26% (28 milhões de hectares) da área total de cada bioma.
Há formação florestal nos demais biomas do Brasil, porém em proporção muito menor:
- 13% do Cerrado (25 milhões de hectares)
- 4% da Caatinga (3 milhões de hectares)
- 16% do Pantanal (2,4 milhões de hectares)
- 11% do Pampa (2,2 milhões de hectares).
Todos os biomas perderam área de formação florestal nos últimos 38 anos, com exceção do Pampa que se manteve estável.
A Amazônia abriga também florestas alagáveis – nova categoria que passou a ser monitorada pelo MapBiomas a partir deste ano nesse bioma. São formações que se estabelecem ao longo de cursos d’água, ocupando as planícies e terraços periodicamente ou permanentemente inundados, que adquirem fisionomias de matas de várzea e matas de igapó. Entre 1985 e 2022, foram perdidos 430 mil hectares de florestas alagáveis na Amazônia, onde ocupavam 18,8 milhões de hectares ou 4,4% do bioma em 2022.
A formação savânica cobre 12% do território brasileiro, ou 104,5 milhões de hectares – o equivalente a três vezes o estado de Goiás. Esta formação que se caracteriza pela vegetação com espécies arbóreas distribuídas de forma mais esparsa e em meio à vegetação herbácea-arbustiva contínua é a segunda classe de floresta natural mais representativa em área no Brasil e proporcionalmente a que teve o maior desmatamento. Entre 1985 e 2022 a perda de formação savânica totalizou 29 milhões de hectares ou 22% em relação à área existente em 1985. O ritmo de devastação foi de aproximadamente 700 mil hectares por ano. De cada cinco hectares desmatados, mais de quatro (83%) foram suprimidos no Cerrado. Na Caatinga, a perda foi de 10% (4,7 milhões de hectares).
Mais da metade da formação savânica (53%) fica no Cerrado. O restante fica na Caatinga (42%) e demais biomas (5%), com exceção do Pampa. Em 2022 havia 1,5 milhão de hectares na Amazônia (0,4% do bioma), 1,3 milhão de hectares na Mata Atlântica (1% do bioma) e 2 milhões de hectares no Pantanal (16% do bioma). As formações savânicas correspondem a 28% do Cerrado (56 milhões de hectares) e metade do território da Caatinga (44 milhões de hectares).
Em biomas como no Cerrado e na Caatinga, que já perderam parte significativa de sua vegetação nativa, o ritmo do desmatamento das savanas é alarmante, principalmente na região do Matopiba, que ainda apresenta grandes remanescentes deste ecossistema, mas que estão sendo convertidos para a expansão da agropecuária”, destaca a pesquisadora da equipe do Cerrado no MapBiomas, Barbara Costa.
Manguezais – Classe de vegetação que pode ser encontrada em toda a costa brasileira com exceção do litoral gaúcho – a área total permaneceu estável, em torno de um milhão de hectares, porém com variações regionais: estabilidade na Amazônia e reduções localizadas no Nordeste e Sudeste do país.
Já a restinga arbórea – formação florestal que se estabelece sobre solos arenosos ou dunas na zona costeira e que pode ser encontrada desde Alagoas até o Rio Grande do Sul – perdeu 69 mil hectares (10%) nos últimos 38 anos, passando de 696 mil hectares em 1985 para 626 mil hectares em 2022. No ano passado, 88% da área de restinga estava na Mata Atlântica e 12% no Pampa.
A análise dos mapas anuais de cobertura e uso da terra desde 1985 do MapBiomas permite identificar as florestas secundárias, ou seja, as florestas que voltaram a crescer em áreas desmatadas. Em 2021, elas ocupavam 41 milhões de hectares em todo o Brasil, o equivalente a 8% das florestas naturais do país. Os biomas com maior proporção de florestas secundárias são a Mata Atlântica e a Caatinga, com 27% cada (8,1 milhões de hectares e 12,5 milhões de hectares, respectivamente), seguidos pelo Cerrado (12% do bioma, ou 10 milhões de hectares), Pantanal (8% do bioma, ou 100 mil hectares), Amazônia (3% do bioma, ou 9,8 milhões de hectares) e Pampa (2% do bioma, ou 300 mil hectares). Com exceção da Mata Atlântica e Caatinga, elas não são o principal alvo do desmate nos biomas brasileiros: cerca de 70% da supressão vegetal em florestas naturais entre 1985 e 2022 se dá em áreas de florestas primárias. No caso da Amazônia, esse percentual é de 82%.
Os estados com maior proporção de floresta estão Amazonas (93%), Acre (85%) e Amapá (82%). O estado do Amazonas também apresenta a maior área de floresta com 145 milhões de hectares, quase um terço das florestas do país (29%), seguido do Pará (93 milhões de hectares) e Mato Grosso (47 milhões de hectares). A área de floresta desses três estados representa mais da metade da área das florestas brasileiras (58%). Mas Mato Grosso e Pará também lideram os estados que mais perderam área florestal natural, com 31,4 milhões de hectares e 18,4 milhões de hectares respectivamente. Já os estados de Rio de Janeiro e São Paulo ganharam área de floresta entre 1985 a 2022.
Sobre o MapBiomas – O MapBiomas é uma rede colaborativa, formada por ONGs, universidades e empresas de tecnologia, que revela as transformações do território brasileiro, por meio da ciência, tornando acessível o conhecimento sobre o uso da terra, a fim de buscar a conservação e combater as mudanças climáticas. Produz mapeamento anual da cobertura e uso da terra desde 1985, valida e elabora relatórios para cada evento de desmatamento detectado no Brasil desde janeiro de 2019 e monitora a superfície de água e cicatrizes de fogo mensalmente desde 1985. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa.